sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Olhos cor de Pipper.

Estava apaixonada, em 34 anos era a primeira vez que se sentia APAIXONADA.
Na primeira semana de namoro com Carlinhos ja o amava, sentia como se algo comparado a uma gilete ou qualquer outro filhete de metal passasse rápido em suas costas "zummmmm" todas as vezes que o via. Só podia ser paixão.
Chegava em casa as uma da tarde todos os dias, era professora primária, almoçava cozidos as pressas e passava as tardes a suspirar deitada na cama em meio a bonecas de pano e duas gatas velhas que considerava como filhas, Mirna e Mirca. Estava Feliz.

Carlinhos era um desses rapazes velhos que se encontra em todos os bairros de periferia, era conhecido por todos e sempre morou na mesma casa desde que nasceu, ainda era chamado de Carlinhos mesmo tendo quase quarenta anos, havia sido relativamente bonito em alguma época obscura da sua vida e sempre tivera o luxo de gostar de biscoitos recheados logo após o almoço. Depois um copo d'água gelado. Passava as tardes dormindo. Estava feliz.

Depois de um mês de namoro o velho rapaz passou a frequentar a casa de Daniele, para insatisfação da mãe, um senhora íntegra mas de coração nebuloso, sempre tivera por ai, fazendo bonecas de pano e desmanchando os namoros da filha, mas dessa vez seria diferente. Era o que pensava a professora.

Na segunda vez que ela o recebeu em casa, sentaram-se no sofá a frente da TV, não falavam muito quando a luz estava acesa, nem precisava, foi quando uma das gatas pulou enciumada como um tigre no colo de Carlinhos deixando sua calça cinza de tergal completamente cheia de pelos brancos que jamais sairiam. Ele enfureceu!

_Não, Carlinhos, tudo menos isso, não me peça uma coisa dessas!

Não havia jeito, ele bateu o portão atrás dele ordenando que Daniele desse cabo a vida do bichano.

Como sofreu a pobre professora ao tentar se livrar do animal que havia chamado de "filhinha" por quase dez anos. Na primeira tentativa, deixou o bicho numa rua afastada, não adiantou, em algumas horas lá estava Mirca lambendo a pata e encarando a dona como um gato egipsio. Ela chorou.

Tinha os cabelos precocemente brancos que escondia com uma tintura de segunda muito loiro, pensou que logo também os de baixo iriam ficam sem cor e seria mais difícil esconder dela mesmo. Fez cara de nojo pro espelho. Ele respondeu.
Engoliu o choro e afogou a gata na pia antes de retocar as suas raizes.


Continua...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009


E se houvesse uma noite que durasse muitos dias o meu bem me ensinaria a ter saúde.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Algo que surge em vc, não se explicar tipo um estalo.

Não há nada mais real do que você/
Se ao meio dia me assombra dizendo que eu sou lindo/
Correm rios de amor por entre olhos
de pesadas pálpebras tão inquietas e absolutas/
.
Choro beijo em tua boca teu sinal/
rasgo o desenho de antigamente onde eu não estava.
Porque existem abelhas ainda elas/
que moldam como mel a minha vontade.
.
E se agora tenho no bolso um outro amante que não tu/
é porque preciso de pracinha e de maos dadas/
Odeio minha pele tão pedinte/ que leva outro ao cinema que não tu.
.
E se refaço meu amor as três da tarde/ e se preciso de presença e beijos gastos é porque nao conheço as regioes longe daqui/
e de tão meu que é meu caminhar/
vai mudando com o dia me traindo
.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Water.

Decidiu que não ficaria mais sozinho e quis amor aquático.

Tão afoito que é,
Morreu afogado.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Das Horas Vãs.


Suspeito que eu tenha te mentido.

Ontem a noite quando eu disse que te queria, era a mim a quem eu desejava e a quem sempre desejei.

Se gostava dos seus olhos e os achava inocentes era porque lembravam os meus de dezessete.

E se Amor foi sugerido enquanto eu te assisti insone e arrumei meus cabelos oleosos-vaidosos em lençoes sujos de tédio é porque tu só existe em mim, quando existe o tédio.
Eu caçoei do teu sorriso estranho, tão sôfrego, que são casas de abelha - tão perigosos.

E nunca em tua fala Beckett ou Nestrovski .


A noite na cama:

No sonho me fazes igual aos outros e se me mata quando vai ao cinema é porque o meu pranto anda nas tuas embarcações.

domingo, 2 de agosto de 2009

Um poema sobre abacaxis.

Domingo é mesmo um dia difícil.
Viúva sente saudade do marido e
quem ainda não casou acha que não casa nunca.
Há um tédio furta cor que cutuca os ossos
que nem samba antigo.
É de choro.
A gente lembra das viagens feitas, das que não
podemos fazer tão cedo e de quem já viajou pra sempre.
Cachorro late na rua e a gente treme e acha que é lobo.
É de medo.
A pressão cai.
Nunca vi gente nascendo num domingo
mas pra compensar, ja vi morrendo.
É dorido.
Quando se é criança domingo é dia de cortar o cabelo,
quem namora, é dia de despedida.
Até a lua demora pouco no céu.
E Deus vai dormir e esquece da gente.
É de fim.

sábado, 1 de agosto de 2009


Amarrar os teus cadaços e pentear o teu cabelo como se tu, maldito, fosse meu filho.


E beijando o teu corpo beijar o coração de toda a floresta amozônica.


laço


desfecho.


O teu sorriso ainda vai salvar o mundo.